26/02/2016
A mãe, de 20 anos, não teve
sintomas de zika ou de qualquer outra infecção durante a gravidez. Tudo parecia
bem até a 18º semana de gestação, quando o feto começou a perder peso.
Perto da 30º semana, exames de
ultrassom mostraram que o bebê tinha microcefalia e hidranencefalia, condição
em que os hemisférios cerebrais desaparecem, e o local é preenchido por
líquido.
Também apresentava hidropsia,
que se caracteriza por acúmulo de líquido e inchaço sob a pele e as membranas
que envolvem o abdome, o pulmão e o coração.
O bebê nasceu morto na 32º
semana de gestação. A autópsia revelou o vírus da zika no cérebro, na medula
espinhal e no líquido amniótico.
O caso, que reforça a ligação
da zika à outras alterações fora do sistema nervoso central, foi relatado em artigo
publicado nesta quinta (25) no periódico científico "PLOS Neglected
Tropical Diseases". O trabalho foi feito por pesquisadores brasileiros e
americanos.
"Esse caso alerta para um
problema que ainda não tinha sido relacionado ao zika, a hidropsia. Falamos
agora em síndrome da zika congênita, não só microcefalia", diz o obstetra
Manoel Sarno, especialista em medicina fetal e um dos autores do trabalho.
Albert Ko, professor de saúde
pública da Universidade de Yale e líder do estudo, pondera que mais pesquisas
são necessárias para entender se a hidropsia foi um achado isolado ou se o
vírus da zika pode mesmo causar essa condição.
Ao menos três estudos
brasileiros publicados nas últimas semanas já apontaram que, além da
microcefalia, o vírus também está associado à artrogripose, má-formação das
articulações, e a graves problemas oculares.
O caso descrito no novo estudo
foi acompanhado no Hospital Geral Roberto Santos, de Salvador, onde mais de cem
crianças com microcefalia são monitoradas desde outubro.
Segundo o médico Antonio
Raimundo de Almeida, também autor do artigo, outro ponto que chamou atenção foi
a ausência de sintomas da mãe.
"Ela não teve `rash'
[manchas avermelhadas pelo corpo], não teve febre, ou seja, teve uma gravidez
normal até a 14º semana, sem nenhuma alteração. Quando a gestação fica mais
avançada, surgiram essas alterações cerebrais muito graves, que levaram ao
aborto."
Durante o pré-natal, a
gestante já havia feito exames para hepatite, HIV, toxoplasmose, rubéola,
citomegalovírus –todos negativos.
Para Almeida, o caso reforça a
importância de se rastrear com mais cuidado todas as gestantes que moram em
regiões epidêmicas para zika independentemente se tiveram ou não sintomas da
infecção durante a gravidez. O médico afirma que a microcefalia hoje é só ªa
ponta do icebergº quando se trata dos efeitos da infecção por zika.
Após a diretora-geral da OMS,
Margaret Chan, afirmar nesta quarta (24) que o surto de zika e microcefalia no
país ªpode piorar antes de melhorarº, o Ministério da Saúde avalia que é
possível que algumas das grandes cidades do país que ainda não registraram
presença expressiva do vírus sejam infectadas.
Fonte: Folha On-Line